O tarifaço de Trump, anunciado no começo de julho, sobre o Brasil vai aplicar uma tarifa de 50% a todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos e vai gerar grandes impactos econômicos em nosso país. Com a taxação prevista para entrar em vigor em 1º de agosto de 2025, o tarifaço já provoca reações em cadeia no agronegócio, na indústria, na política e nas negociações internacionais.

Ao longo deste artigo, vamos abordar como é a relação comercial entre os dois países, quais setores brasileiros serão mais impactados e quais soluções são projetadas pelo governo brasileira. Confira o conteúdo completo.

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Balança comercial Brasil X EUA: uma relação historicamente assimétrica

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 40 bilhões em produtos para os americanos, enquanto importou cerca de US$ 42 bilhões, o que mantém um saldo historicamente positivo para os EUA. Segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), apenas no primeiro semestre de 2025, os americanos obtiveram superávit de R$ 1,7 bilhão com o Brasil — um número quase cinco vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior.

Trump, no entanto, justifica o tarifaço alegando “desvantagens comerciais” e discordância na condução de posicionamentos político/judiciário  brasileiro.

Principais setores afetados

As novas tarifas impactam diretamente setores estratégicos da economia brasileira, com destaque para:

  • Agroindústria (carne bovina, frutas, café, suco de laranja);
  • Indústria aeronáutica (Embraer);
  • Setor madeireiro e de móveis;
  • Produtos químicos, açúcar e álcool etílico.

Estima-se que o agronegócio sozinho poderá perder US$ 5,8 bilhões por ano. A Embraer, por sua vez, projeta perdas de até R$ 20 bilhões até 2030. Ao longo do texto, vamos detalhar tais pontos.

Os impactos no Brasil e no mundo do Tarifço de Trump

O tarifaço de Trump ameaça interromper cadeias de valor globais e pode provocar um redirecionamento forçado das exportações brasileiras. Setores que dependem dos EUA como principal destino enfrentam risco de estoques encalhados, cortes de produção e demissões. Em estados como Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Paraná, empresas já começaram a suspender embarques e colocar funcionários em férias coletivas.

Além disso, há preocupação de que o aumento de tarifas nos EUA pressione os preços internos no Brasil, desorganize o mercado e force a realocação emergencial de produtos para destinos menos vantajosos, inclusive com prejuízo.

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Produtos mais afetados pelo tarifaço de Trump

O tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump contra o Brasil atinge em cheio setores estratégicos da economia nacional. Os impactos vão muito além de uma simples elevação de preços — representam um verdadeiro redirecionamento de mercados e ameaçam a sustentabilidade de cadeias produtivas inteiras. Neste cenário, é essencial identificar os principais produtos afetados para entender a profundidade da crise.

Os mais prejudicados: suco de laranja, madeira e carne bovina

Entre os itens mais penalizados estão produtos com grande volume de exportação e baixa capacidade de substituição no curto prazo. Veja alguns dos mais atingidos:

ProdutoImpacto estimado nas exportações para os EUA (%)
Suco de laranja não congelado100%
Madeira e obras em madeira100%
Açúcar de cana e beterraba100%
Álcool etílico71%
Carne bovina congelada33%
Café não torrado25%
Pasta química de madeira25%

Fontes: Estudo do Agro do Setor Privado enviado à CNN Brasil

Além dos percentuais altos, esses produtos enfrentam desafios extras: logística já em curso, contratos em vigor e riscos de estoques parados.

Tarifaço de Trump: Estados do Brasil mais afetados

A ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras preocupa diretamente cinco Estados brasileiros, que concentram mais de 70% das vendas ao mercado americano. São eles: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, segundo levantamento da Amcham.

Esses Estados possuem economias fortemente ligadas às exportações industriais — que vão desde suco de frutas, aeronaves e ferro gusa até petróleo, café e calçados. A aplicação da tarifa pode tornar os produtos brasileiros inviáveis no mercado americano, o que resultaria em:

  • Perda de competitividade
  • Queda nas exportações
  • Corte de produção
  • Demissões em setores industriais

Além disso, a medida também afeta os Estados que mais importam produtos dos EUA. Caso o Brasil decida retaliar com tarifas — como autorizado pela Lei da Reciprocidade Econômica —, importações de medicamentos, máquinas e combustíveis também seriam impactadas, com efeitos diretos sobre o custo desses bens para empresas e consumidores.

Outro ponto sensível é a infraestrutura portuária e aeroportuária. Os principais canais de entrada e saída de mercadorias entre os dois países — como o porto de Santos (SP) e os aeroportos de Guarulhos e Viracopos — também seriam afetados por uma redução no fluxo comercial.

Resumo dos Estados mais afetados pelo tarifaço

EstadoExportações aos EUA (US$ – 1º sem./25)% do Total ExportadoPrincipais ExportaçõesImportações dos EUA (US$ – 1º sem./25)% do Total ImportadoPrincipais Importações
São PauloUS$ 6,4 bilhões31,9%Suco de frutas, aeronaves, equipamentos florestaisUS$ 6,7 bilhões31,2%Medicamentos, inseticidas, máquinas de dados
Rio de JaneiroUS$ 3,2 bilhões15,9%Petróleo bruto, ferro e aço, óleos combustíveisUS$ 4,6 bilhões21,3%Máquinas industriais, combustíveis, carvão
Minas GeraisUS$ 2,5 bilhões12,4%Café, ferro gusa, máquinas de energia elétricaUS$ 1,1 bilhão5,4%Máquinas, carvão, polímeros
Espírito SantoUS$ 1,6 bilhão8,1%Ferro e aço, cimento, celuloseUS$ 1,1 bilhão5,2%Aeronaves, carvão, veículos
Rio Grande do SulUS$ 950,3 milhões4,7%Tabaco, máquinas elétricas, calçados
BahiaUS$ 1,2 bilhão5,6%Combustíveis, petróleo, químicos inorgânicos

Fonte: Amcham Brasil

Consequências para produtores e consumidores

O ministro Wellington Dias já advertiu que, embora a queda nas exportações possa gerar, a curto prazo, um alívio inflacionário com preços menores de alimentos, o médio e longo prazo podem ser sombrios. A retração na produção devido à falta de estímulo pode:

  • Desempregar milhares no campo e na indústria;
  • Quebrar pequenas e médias empresas exportadoras;
  • Aumentar os custos com armazenagem de produtos perecíveis;
  • Atrapalhar o planejamento de safra futura.

A Embraer e o risco bilionário

A Embraer talvez seja o caso mais simbólico. Responsável por 45% dos jatos comerciais e 70% dos executivos vendidos aos EUA, a empresa estima perdas de até R$ 20 bilhões até 2030, podendo reduzir investimentos e cortar empregos.

O que o governo brasileiro pode fazer para driblar ‘tarifaço de Trump’

Com a tarifa de 50% prestes a entrar em vigor, o governo brasileiro estuda alternativas para driblar o impacto sem mergulhar em uma guerra comercial que possa se voltar contra a própria economia nacional. A complexidade da resposta exige uma combinação de diplomacia, medidas jurídicas e estratégias econômicas de curto e médio prazo.

Diversificação de mercados: menos dependência dos EUA

Uma das principais frentes de ação envolve a diversificação dos destinos de exportação brasileiros. Hoje, os Estados Unidos representam o segundo maior mercado para produtos nacionais, especialmente carnes, café, frutas, madeira e aviões. O objetivo do governo é acelerar negociações com países da Ásia, África e América Latina para redirecionar parte dessas exportações.

A ApexBrasil já iniciou tratativas com mercados alternativos, como Indonésia, Vietnã, Filipinas, Egito e Emirados Árabes. A ideia é garantir acordos sanitários, simplificação de trâmites alfandegários e linhas de financiamento para facilitar o acesso de exportadores a esses países.

Incentivos à industrialização local e maior valor agregado

O tarifaço também reabriu uma discussão estratégica: o excesso de exportações brasileiras com baixo valor agregado. Produtos primários, como carne in natura, café verde, madeira bruta e suco concentrado, são mais vulneráveis a barreiras comerciais. Em resposta, o governo estuda políticas de incentivo à industrialização local, que podem incluir:

  • Créditos com juros subsidiados para agroindústrias;
  • Apoio à instalação de frigoríficos, torrefações e fábricas de sucos voltadas à exportação;
  • Reformulação de programas de exportação via BNDES e Finep.

A proposta é transformar o modelo de exportação brasileiro e torná-lo mais resiliente.

Estímulo ao consumo interno e controle de estoques

Com a expectativa de queda nas exportações, setores como carne, frutas e mel devem sofrer com o excesso de oferta no mercado doméstico. Para lidar com isso, o governo considera estímulos ao consumo interno e apoio logístico para armazenagem, evitando o colapso de preços e o desestímulo à produção.

Segundo o ministro Wellington Dias, o equilíbrio entre o preço justo ao consumidor e a proteção ao produtor será uma das prioridades. A ideia é evitar uma retração produtiva em resposta à queda das exportações.

Incentivo à cooperação internacional

Outra frente envolve a articulação com outros países prejudicados pelo tarifaço. A ideia é formar um bloco de países afetados que possa pressionar os Estados Unidos conjuntamente na OMC e em fóruns multilaterais. A estratégia visa fortalecer o argumento de que a medida de Trump é isolada, política e contrária às normas do comércio global.

Além disso, o Brasil busca reforçar acordos comerciais com a União Europeia, Mercosul e países africanos, como parte de uma estratégia de médio e longo prazo para reduzir vulnerabilidades.

Foco na estabilidade cambial e controle fiscal

No campo econômico, o governo trabalha para garantir estabilidade cambial e evitar uma disparada do dólar — o que encareceria importações e elevaria a inflação. O Banco Central tem monitorado a situação e pode atuar no câmbio, se necessário. O Ministério da Fazenda, por sua vez, reafirmou que qualquer plano de contingência será construído sem romper o controle das contas públicas.

👉 Leia mais sobre como funciona  o Swap de dólar que o BC pode fazer nesta situação.

Impactos econômicos do tarifaço de Trump

O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras representa uma ameaça concreta à economia nacional. Mais do que uma disputa comercial, a medida tem potencial para desorganizar cadeias produtivas, comprometer o crescimento do PIB, ampliar o desemprego em setores estratégicos e reduzir a competitividade do país no cenário internacional.

Perdas bilionárias nas exportações

Estudos realizados por entidades do agronegócio e da indústria estimam que o tarifaço pode provocar uma redução anual de até US$ 9 bilhões nas exportações brasileiras aos EUA. Só o setor agropecuário prevê perdas imediatas de US$ 5,8 bilhões, especialmente em carne bovina, frutas, suco de laranja, café e mel.

O Brasil exporta, por ano, cerca de US$ 40 bilhões em produtos para os EUA. Uma tarifa média de 50% compromete fortemente a viabilidade desses embarques, tornando os produtos brasileiros menos competitivos frente a concorrentes como México, Canadá, Vietnã e Colômbia.

Pressão sobre o PIB e a arrecadação

Segundo projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o impacto do tarifaço pode representar uma retração de até 0,3 ponto percentual no PIB de 2025, caso as exportações aos EUA não sejam redirecionadas rapidamente para outros mercados.

Além disso, a arrecadação federal tende a ser afetada, tanto pela redução na atividade econômica quanto por possíveis isenções e desonerações que o governo terá de conceder para socorrer setores atingidos.

Desemprego e desmobilização industrial

A interrupção dos embarques para os EUA já levou diversas empresas brasileiras a suspenderem linhas de produção e concederem férias coletivas. Isso aconteceu em frigoríficos no Mato Grosso do Sul, madeireiras no Paraná, processadoras de mel no Piauí e exportadoras de frutas no Nordeste.

Com o tempo, a tendência é de que esse movimento provoque demissões em massa, principalmente entre trabalhadores de baixa e média qualificação. Estima-se que o tarifaço possa afetar diretamente mais de 100 mil empregos em todo o país, considerando os setores mais expostos à exportação.

Desorganização das cadeias de valor

O impacto não se limita à exportação final. Muitas cadeias de produção dependem de insumos, peças e contratos com empresas americanas, e o aumento das tarifas pode provocar atrasos, reajustes de preços e redução de margens.

Além disso, setores como o de aviação e tecnologia, onde a Embraer e empresas de software operam em parceria com companhias dos EUA, correm risco de ruptura em contratos estratégicos e esvaziamento de investimentos futuros.

Risco de inflação ou deflação setorial

O tarifaço de Trump também pode provocar distúrbios no mercado interno. A entrada forçada de produtos originalmente destinados à exportação pode gerar um excesso de oferta em alguns segmentos, derrubando preços e desestimulando a produção futura. Ao mesmo tempo, insumos importados dos EUA — caso o Brasil adote medidas retaliatórias — podem ficar mais caros, pressionando a inflação em outros setores.

Essa instabilidade pode comprometer a confiança dos investidores e a previsibilidade da política monetária.Além disso, se a crise comercial se prolongar, importadores e varejistas podem reduzir estoques por precaução, o que afeta diretamente a experiência de compra do consumidor final.

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