Compras internacionais e os Correios tornaram-se tema recorrente após a implementação da chamada “taxa das blusinhas” e do programa Remessa Conforme. Juntas, essas medidas alteraram profundamente a forma de fiscalização da Receita Federal, trazendo mais previsibilidade para consumidores, novos critérios para as empresas e reduzindo o volume de taxações realizadas diretamente na alfândega dos Correios. A mudança marca uma nova era nas importações, com impacto direto na logística, nos tributos cobrados e na competitividade do e-commerce internacional.
A alfândega dos correios é o braço da Receita Federal responsável pela fiscalização aduaneira, controle de entrada e saída de mercadorias no território nacional. No caso de remessas internacionais, a atuação da alfândega é essencial para a verificação do valor declarado, classificação fiscal dos produtos e recolhimento de tributos devidos.
Ainda que a importação não exija desembaraço formal, a alfândega pode aplicar procedimento simplificado com base em instruções normativas da RFB (que dispõe sobre a obrigatoriedade de prestação de informações relativas às operações financeiras de interesse da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil na e-Financeira), principalmente quando o destinatário é pessoa física e o envio é feito por pessoa jurídica.
A entrada de bens adquiridos do exterior por pessoa física está sujeita a um conjunto de tributos, mesmo quando o valor da compra é baixo.
Popularmente chamada de “taxa das blusinhas”, a medida se trata da aplicação regular do imposto de importação e ICMS sobre compras internacionais, que já era prevista em lei, mas raramente aplicada a remessas.
O crescimento vertiginoso das plataformas asiáticas, como Shein, Shopee, AliExpress e outras, provocou um alerta na arrecadação interna, devido à concorrência desleal com produtos nacionais. Entenda como ela funciona:
Para compras internacionais com valor de até US$ 50, a taxação é feita da seguinte forma:
Exemplo: Se você comprar um produto que custa R$200 e o frete é de R$ 20,00, o valor total da compra é R$ 220,00. Com a inclusão do ICMS (20% sobre R$ 220,00), o novo valor será R$ 275. Sobre o valor, será aplicada a taxa de 20%, resultando em um custo adicional de R$ 55, totalizando R$330.
Para compras internacionais com valor acima de US$ 50, a taxação também sofre alterações:
Exemplo: Se você comprar um produto que custa R$ 280,00 e o frete é de R$ 20,00, o valor total da compra é R$ 300,00.
Para entender mais sobre esse assunto, confira nosso conteúdo “Taxa das blusinhas: o que é, quando começa e quanto vai custar?”
O Remessa Conforme é o programa de conformidade aduaneira da Receita Federal que permite às empresas estrangeiras atuar com maior previsibilidade nas vendas ao Brasil.
Quer saber mais sobre taxações para e-commerce? Acesse nosso conteúdo “Taxação de E-commerce: entenda como funciona“
Se a loja ou marketplace não aderiu ao programa, a situação se complica para o consumidor. Os tributos não são pagos no momento da compra e podem ser cobrados na chegada ao Brasil, com a liberação da Receita Federal.
Nesse caso, o comprador:
Para as empresas que optam por ficar de fora, um obstáculo pode ser menor competitividade no mercado brasileiro, já que:
Os Correios atuam como operadores logísticos e também como intermediários na cobrança dos tributos de importações. Ou seja, quando a Receita Federal libera a mercadoria e informa os tributos devidos, cabe aos Correios notificar o consumidor e intermediar o pagamento.
Com o avanço do Remessa Conforme, essa intermediação deixou de ser necessária em boa parte das compras, especialmente das grandes plataformas que aderiram ao programa. Isso gerou impacto direto na arrecadação dos Correios.
Segundo informações apuradas pela CNN, os Correios registraram uma perda de R$ 2,2 bilhões em arrecadação em 2024. A estatal previa arrecadar R$ 5,9 bilhões com o transporte de compras internacionais da China, mas com a aplicação do Remessa Conforme e a nova sistemática tributária, o valor arrecadado ficou em apenas R$ 3,7 bilhões.
Em outra estimativa, mesmo considerando a nova regra, a arrecadação projetada era de R$ 4,9 bilhões. Ainda assim, o valor final ficou R$ 1,7 bilhão abaixo do esperado.
A Receita Federal vem ampliando o uso de tecnologias para rastrear e tributar encomendas com maior precisão. O cruzamento de dados de plataformas, emissão de notas fiscais eletrônicas e o uso de inteligência artificial permitem monitorar as remessas.
Empresas que não aderem ao Remessa Conforme estão mais expostas à fiscalização, com risco de:
A política de taxação das “blusinhas”, com a criação do programa Remessa Conforme, trouxe maior transparência tributária e fortaleceu o controle aduaneiro. No entanto, a mudança também gerou efeitos colaterais profundos na logística, especialmente para os consumidores e para os Correios, que perdem espaço e receita no novo cenário.
Ao mesmo tempo em que melhora a arrecadação para os cofres públicos e reduz a sonegação, a nova estrutura obriga empresas estrangeiras a se adaptarem a um modelo mais transparente, e consumidores a se informarem melhor sobre seus direitos e deveres nas compras internacionais.
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