Política monetária: o que é, como funciona e seus impactos
A política monetária é um pilar central da economia, responsável por orientar o equilíbrio entre crescimento, inflação e estabilidade financeira. No Brasil ela é conduzida pelo Banco Central, uma autarquia federal que define estratégias para regular a circulação de dinheiro.
Essas decisões afetam diretamente o crédito, o consumo e os investimentos, moldando o ritmo da atividade econômica. Entender como essa política funciona e de que forma suas ações repercutem no dia a dia de empresas e cidadãos é essencial para interpretar os rumos da economia.
Neste conteúdo, abordamos o conceito de política monetária, o que ela representa no contexto econômico e qual a sua influência na gestão tributária.
O que é política monetária?
Política monetária é o conjunto de ações adotadas por uma autoridade monetária para controlar a circulação de dinheiro e as taxas de juros da economia. No caso do Brasil, essas movimentações são conduzidas pelo Banco Central (BCB), que busca manter a estabilidade de preços, estimular o crescimento econômico e preservar o equilíbrio do sistema financeiro.
Originalmente, o termo política monetária estava ligado à oferta e demanda de moeda, que variam de acordo com a finalidade de uso:
- Demanda por moeda como ativo – Refere-se ao dinheiro mantido como forma de reserva de valor ou investimento de curto prazo. Essa demanda tende a diminuir quando a taxa de juros aumenta, pois o custo de manter recursos parados em forma líquida se torna mais alto em comparação com aplicações financeiras remuneradas.
- Demanda por moeda para transações – Relaciona-se ao uso do dinheiro para a compra e venda de bens e serviços no dia a dia. Nesse caso, a demanda é praticamente independente da taxa de juros, pois está vinculada ao volume de atividades econômicas e ao nível de renda, não ao retorno financeiro.
Assim, a política monetária busca influenciar principalmente a demanda por moeda como ativo, ajustando juros e liquidez para atingir metas como o controle da inflação e a estabilidade econômica.
Qual o objetivo da política monetária?
O objetivo da política monetária é atuar como um instrumento de estabilização econômica, ao lado da política fiscal, buscando evitar tanto o superaquecimento da economia quanto a recessão.
Para isso, ela ajusta a taxa básica de juros de curto prazo — seu principal instrumento — de forma a influenciar o nível de consumo, investimento e crédito. Juros mais altos tendem a conter a atividade econômica e o avanço da inflação, enquanto juros mais baixos estimulam a produção, o consumo e o crescimento, sendo utilizados em períodos de desaquecimento econômico.
Para isso, o Banco Central utiliza instrumentos como:
- Taxa básica de juros (Selic) – influencia o custo do crédito e o nível de consumo e investimento.
- Operações de mercado aberto – compra e venda de títulos públicos para regular a liquidez.
- Depósitos compulsórios – percentual que os bancos são obrigados a manter depositado no BC, afetando a oferta de crédito.
- Controle de câmbio – intervenções para suavizar oscilações abruptas na moeda.
O que é inflação?
A inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços em uma economia, provocando a perda do poder de compra da moeda. No Brasil, esse fenômeno é acompanhado por diversos indicadores, sendo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) o principal, utilizado no sistema de metas de inflação definido pelo Banco Central.
Dentre as principais causas da inflação estão questões ligadas a
- pressões de demanda;
- pressões de custos;
- inércia inflacionária;
- ou expectativas de inflação.
Os efeitos são ainda mais severos para as camadas de menor renda, que têm menos acesso a instrumentos financeiros para se proteger da alta de preços. Além disso, uma inflação elevada aumenta o custo da dívida pública, pois as taxas de juros precisam compensar tanto a desvalorização da moeda quanto o risco associado a um cenário de instabilidade econômica.
O que é juros?
Para entender os pilares da política monetária também é importante compreender o que são juros. Em um exemplo básico, eles são a remuneração paga pelo uso de um dinheiro emprestado por um período definido, segundo condições previamente acordadas.
Dessa forma, o credor recebe os juros como compensação por disponibilizar o recurso, enquanto o devedor paga pelo benefício de utilizá-lo.
O valor dos juros é diferente da taxa de juros, que expressa esse rendimento em percentual e considera o período de incidência (mensal, anual etc.). A taxa selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, hoje está em 15% ao ano – segundo a última atualização da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 30 de julho de 2025.
O cálculo das taxas leva em conta fatores como inflação, risco do empréstimo, custo de oportunidade, despesas administrativas e, no Brasil, a referência da Taxa Selic, definida pelo Banco Central.
Tipos de política monetária
A política monetária pode assumir diferentes direções, dependendo da situação econômica e dos objetivos perseguidos pela autoridade monetária. No Brasil, o Banco Central define qual estratégia adotar para equilibrar inflação, crescimento econômico e estabilidade financeira, e para isso existem duas principais vertentes:
Política Monetária Expansionista
A política monetária expansionista é utilizada quando a economia está desaquecida, ou seja, com baixo crescimento, desemprego elevado ou risco de recessão. O objetivo dessa linha é estimular a atividade econômica aumentando a circulação de dinheiro, incentivando o consumo e favorecendo os investimentos.
Principais características:
- Ampliação da liquidez na economia;
- Desvalorização do câmbio, reduzindo o poder de compra da moeda no exterior;
- Expansão da oferta de crédito;
- Incentivo à produção e à geração de empregos;
- Elevação da demanda por bens e serviços.
Possíveis efeitos:
- Positivos: crescimento do PIB, aumento dos investimentos e maior geração de empregos;
- Negativos: pressão inflacionária, perda do poder de compra e desvalorização do real.
Política Monetária Contracionista
A política monetária contracionista é aplicada quando a economia apresenta inflação elevada ou risco de superaquecimento. Sua função é reduzir a quantidade de dinheiro em circulação, desacelerando a demanda e controlando a alta dos preços.
Principais características:
- Diminuição da liquidez;
- Valorização do câmbio, fortalecendo a moeda nacional no exterior;
- Redução da oferta de crédito;
- Desaceleração do consumo e dos investimentos;
- Queda na demanda e na produção de bens e serviços.
Possíveis efeitos:
- Positivos: controle da inflação, estabilidade dos preços e valorização do poder de compra;
- Negativos: risco de retração econômica, desemprego e deflação.
Diferença entre expansionista e contracionista
Característica | Política Monetária Expansionista | Política Monetária Contracionista |
---|---|---|
Objetivo principal | Estimular a atividade econômica e o consumo. | Conter a inflação e evitar superaquecimento da economia. |
Situação em que é aplicada | Cenários de recessão, baixo crescimento ou desemprego elevado. | Cenários de inflação alta ou excesso de demanda. |
Taxa básica de juros | Reduzida para baratear o crédito e incentivar investimentos. | Elevada para encarecer o crédito e reduzir consumo. |
Oferta de moeda | Aumentada (maior liquidez na economia). | Reduzida (menor liquidez na economia). |
Impacto no crédito | Facilita o acesso ao crédito. | Restringe o acesso ao crédito. |
Efeitos sobre o consumo | Aumenta o consumo e a demanda agregada. | Reduz o consumo e a demanda agregada. |
Efeitos sobre a inflação | Pode gerar aumento da inflação no médio prazo. | Pode reduzir a inflação ao longo do tempo. |
Instrumentos mais comuns | Corte na taxa Selic, redução de depósitos compulsórios, compra de títulos públicos. | Aumento da taxa Selic, aumento de depósitos compulsórios, venda de títulos públicos. |
A influência da política monetária na gestão fiscal e tributária
A política monetária é um dos principais instrumentos para controlar a inflação, preservar o poder de compra da moeda e manter a estabilidade econômica. Embora tenha um caráter próprio, ela exerce influência direta sobre a gestão fiscal e tributária, tanto no setor público quanto no privado.
No âmbito governamental, as decisões monetárias impactam a gestão fiscal ao alterar o custo da dívida pública. Quando a taxa Selic é elevada, aumenta-se a despesa com juros, comprimindo o espaço para investimentos e exigindo maior rigor no controle orçamentário. Em contrapartida, uma política monetária expansionista, com juros mais baixos, alivia o serviço da dívida e abre margem para políticas de estímulo econômico e expansão de gastos estratégicos. Essas mudanças afetam também a arrecadação, já que juros altos tendem a desacelerar o consumo e o investimento, reduzindo a base de incidência de tributos como ICMS, IPI, ISS e PIS/COFINS.
Do ponto de vista empresarial, a política monetária influencia diretamente a gestão tributária e o planejamento financeiro. Taxas de juros elevadas encarecem parcelamentos e programas de refinanciamento de débitos fiscais, tornando-os menos atrativos. Por outro lado, valorizam créditos tributários a recuperar, já que estes são atualizados pela própria Selic, podendo alterar os planos de compensação ou restituição.
Compreender e acompanhar esses movimentos permite antecipar variações no custo de capital, reprogramar pagamentos e créditos tributários, reavaliar regimes fiscais e ajustar a tomada de decisão empresarial de forma alinhada ao cenário econômico. Em resumo, a política monetária não é apenas um elemento da economia — ela influencia, de forma contínua e interdependente, o ambiente fiscal e tributário no qual governos e empresas operam.
.
Ficou com alguma dúvida sobre o assunto? Clique no banner e fale agora com um de nossos especialistas.
